V CLAC O Meeting - Open Tomar - Orientação para Todos?
Gostaria de partilhar o email que enviei para o CLAC e para a FPO.
Quote:Quando comecei a fazer Orientação uma das coisas que me encantou neste desporto foi o facto de todas as pessoas poderem participar no mesmo evento e poderem escolher o escalão mais adequado à sua condição física e à sua evolução técnica.
OPT significa Orientação Para Todos; para aqueles que dão os primeiros passos no desporto, para aqueles que querem desfrutar de um fim-de-semana em contacto com a natureza, para os que querem partilhar a experiência com amigos ou família e para aqueles que não têm capacidade de disputar um escalão federado. Mas não é assim que os atletas que fazem OPT são encarados por muitos clubes.
Sei que uma prova de Orientação exige muito esforço e dedicação por parte do clube organizador. Sei que numa prova de Orientação há sempre quem aponte o dedo a qualquer coisa. Sei que numa prova de Orientação nem tudo corre sempre bem e por melhor que seja a organizada há sempre alguma falha. Mas o que aconteceu neste fim-de-semana foi vergonhoso! Porque uma coisa é errarmos e tentarmos corrigir o nosso erro, outra coisa é errarmos e nem sequer reconhecermos.
Este fim-de-semana levei oito pessoas para praticar Orientação, quatro das quais pela primeira vez e o que senti foi revolta, indignação, discriminação e vontade de nunca mais levar ninguém, pelo menos enquanto houver organizações como esta.
A primeira falha, e a mais irrisória foi na inscrição: eu tenho Sport Ident próprio, cujo número enviei aquando a inscrição, mas foi-me atribuído um outro pela organização. Coisas que acontecem! Falei no secretariado, no segundo dia utilizei o meu e devolveram-me um euro do aluguer do segundo dia. Um pequeno lapso sem importância. Mas já agora, será que se eu me inscrevesse no escalão de sénior não iriam ver se tinha SI? Será que assumiram que por sermos do OPT não poderíamos ter o nosso SI?
O percurso escolhido por todos os grupos foi o OPT 2, ou seja, o difícil curto. No entanto, no primeiro dia, os pontos encontravam-se todos em caminhos, não havendo a possibilidade de fazer opções (que é para mim o mais estimulante na orientação). Se eu quisesse correr ou seguir trilhos pedestres não me tinha inscrito numa prova de Orientação. Mas deixo a parte técnica para os entendidos. Como foi uma prova monótona, perguntámos no secretariado se seria possível competir no dia seguinte no escalão OPT3, uma vez que neste percurso (supostamente fácil longo) já teríamos a oportunidade de fazer alguns pontos mais técnicos (como comprovámos ao comparar os percursos de sábado). No secretariado não levantaram qualquer problema e passámos para OPT3.
No domingo chegámos por volta das 10h da manhã, podia ser que fosse possível partir mais cedo, para os nossos grupos se distanciarem, uma vez que partíamos com apenas 1 minuto de intervalo. Mas não, tínhamos de esperar pelo nosso tempo de partida. Até aqui tudo bem, não podemos partir antes do nosso tempo porque foi estipulado um tempo de partida para cada atleta/grupo. O problema é que não tivemos a oportunidade de partir no nosso tempo, uma vez que tínhamos de formar uma fila, como bois que estão à espera para o abate. (Talvez estejam mais familiarizados com o termo “Carneirada”!)
Quando finalmente entrámos no corredor, já não havia mapas com o nosso percurso. Ou melhor, existia um, mas era para o veterano que faltava partir. Concordo que o veterano tenha prioridade, uma vez que estaria provavelmente a disputar o ranking. Mas, por favor, uma organização não pode inscrever mais pessoas do que os mapas que tem impressos, muito menos transferir nove pessoas para um escalão onde no dia anterior já tinham faltado mapas! Mas a organização prontamente solucionou o problema: “Leve o OPT2 ou o OPT4” E quando perguntei qual a diferença em termos de distâncias e dificuldade técnica nem me responderam. Como estávamos num escalão OPT, assumiram que fazer um ou fazer outro era igual. Os nossos objectivos ou motivações não interessam, somos OPT!
Mas o meu descontentamento não fica por aqui. A minha sogra e a minha prima foram as últimas a chegar. Apareceram na meta sem terem picado os últimos dois pontos. Apesar de já terem sido dadas como desclassificadas há horas nos papéis afixados com os tempos finais. A minha prima não é mulher de desistir por isso incentivei-a a voltar atrás para picar os pontos que faltavam e acompanhei-a. A fita balizadora estava lá, mas o suporte e o triângulo não. Chamaram-nos e ela acabou por picar aquele ponto no 200. Quando cortou a meta disseram-nos que já deviam estar em prova há quatro horas e como só faltavam elas começaram a levantar os pontos. Afinal, aquela prova “era para 45 minutos”, como frisou um membro da organização (de referir que o vencedor fez 58''26'). Quando imprimiram os tempos constatámos que elas tiveram em prova 2h40m. Uma vez que não foram as últimas a partir e que a recolha dos pontos é feita 3 horas depois do último atleta partir creio que a organização se precipitou. Já agora, não seria mais lógico começarem por recolher os primeiros pontos?
Para não ficar chateada, o grupo do meu namorado ficou em primeiro lugar do OPT3. O mesmo grupo que no dia anterior tinha feito OPT2… Se calhar até a minha prima com as 2h40m de prova conseguia ir ao pódio, porque as diferenças entre os tempos do OPT2 e OPT3 do primeiro dia ainda eram grandes.
Como aquela medalha não foi ganha com mérito e para alertar para a injustiça que se estava a cometer, quando o chamaram ao pódio ele recusou e explicou a situação, ao que o director de prova lhe disse para ir receber a medalha, acrescentando: “isto é só uma brincadeira”. Ele recusou-se. Os grupos que ficaram em segundo, em terceiro e em quarto, e todos os outros, merecem que seja restituída a verdade, porque se para a organização OPT é uma brincadeira, para muitas daquelas pessoas aquilo é uma prova a sério e poderá ser um incentivo a voltarem a praticar orientação. Onde está então a justiça e a verdade desportiva?
Muito do que aqui escrevo não é dirigido apenas ao CLAC.
Não estou a falar de pontos mal marcados ou percursos desarticulados, que também marcaram este fim-de-semana, mas sim de respeito por atletas que pagaram a sua inscrição como todos os outros.
Não sou a favor da divisão dos corredores, é uma medida discriminatória, mas até aí consigo aceitar. O que não aceito e que me revolta profundamente é a falta de respeito para com os atletas OPT. Penso que merecíamos ao menos uma chamada e tempos mais distanciados. Porque existem pessoas que gostam de competir, gostam de partir no horário que foi estipulado e gostam de fazer parte deste desporto.
A Orientação é para todos, mas é mais para uns que para outros!
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